Como recuperar rios urbanos de SP
O site São Paulo Secreto realizou um levantamento que constatou que a capital paulista possui cerca de 286 cursos d’água abaixo da superfície ao longo de 3.600 km de galerias. Isso significa que qualquer habitante da cidade está a menos de 300 metros de um rio. Pensando nisso e em celebração ao Dia Mundial do Meio Ambiente, o Crea-SP reuniu alguns especialistas para discutir maneiras de recuperar e restaurar esses afluentes urbanos, já que o Conselho é signatário da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), que tem, entre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), metas para assegurar a preservação das águas e das vidas que estão nelas. O evento “Meio Ambiente: Restauração e Reabilitação de Rios Urbanos” foi realizado na quinta-feira (06/06), no coworking da rua Nestor Pestana.
“Estamos reunidos com profissionais especialistas no assunto para entendermos melhor como podemos fazer a nossa parte. Desde 2019 realizamos atividades que reforçam o nosso compromisso com a sustentabilidade e melhoria do nosso mundo. O Crea-SP é também um interlocutor entre a área tecnológica e o poder público, para que possamos oferecer serviços e projetos que estejam alinhados com o Pacto Global”, declarou a presidente do Conselho, Eng. Lígia Mackey.
Mesmo tendo grande importância para o desenvolvimento das cidades, os processos de urbanização fizeram com que os rios fossem lembrados somente na época das enchentes, problema recorrente e que também foi um dos temas do primeiro painel, apresentado pelo ex-secretário do Meio Ambiente e de Saúde, médico sanitarista Eduardo Jorge, e o Arq. Rodrigo Ohtake.
Eduardo Jorge recordou algumas das realizações enquanto esteve à frente da Secretaria do Meio Ambiente, ressaltando a importância dos parques lineares. O ex-secretário explicou que esses parques fazem parte de um ecossistema de preservação de margens e que, ao mesmo tempo, tornam-se espaços de convivência para as comunidades que habitam as proximidades de rios, represas etc. “Naquela época, era novidade para a cidade. Além de deixar o bairro com um atrativo para as pessoas, os parques servem como um dispositivo de contenção de enchentes. A água encheu, a gente espera baixar. Baixou? Limpa e devolve para a população”, comentou. Ainda em sua fala, Eduardo explicou sobre a necessidade de retirar populações das áreas de mananciais. Segundo ele, a prática de construção em beiras de rios coloca em perigo a vida das pessoas e a limpeza das águas, pois muitas vezes o descarte de esgoto é realizado de forma irregular e precária, direto nos rios.
O Arq. Rodrigo Ohtake, por sua vez, recordou o projeto do parque linear do Tietê, de autoria de seu pai, o também arquiteto Ruy Ohtake. Segundo Rodrigo, caso fosse levado adiante, seria uma das principais obras de mobilidade urbana do mundo. Ao falar sobre respeitar as margens dos rios, ele utilizou como exemplo as enchentes em Porto Alegre (RS). “Se medidas tivessem sido tomadas, as catástrofes teriam sido menores. Se as várzeas tivessem sido respeitadas, somente elas teriam sido inundadas e o rio voltaria ao seu normal. Se a cidade não tivesse invadido a várzea, nada aconteceria”, ressaltou.
Técnicas de Restauração Verde
A Eng. Juliana Alencar abordou, em sua apresentação, que a ação antrópica é um dos principais fatores que contribuem para a poluição das águas pluviais, ou seja, práticas de degradação promovidas pelo ser humano. Juliana classificou que, com isso, os cursos d’água se apresentam de diferentes maneiras na paisagem, e que a urbanização é agente central de poluição e da construção de estações de tratamento, o que ocasiona o armazenamento de águas que não podem ser utilizadas para outros fins. Segundo a engenheira ambiental, a tendência é que, até 2030, a temperatura aumente de 1º a 2°C. De 2040 a 2050, a expectativa é que haja um acréscimo de mais 2°C. Quanto às precipitações, no período de 2040 a 2050, o volume das chuvas pode subir cerca de 30%, o que leva a um maior número de acidentes ou situações de extremo perigo.
Na segunda parte do painel, o Eng. Gustavo Asciutti explicou que tanto as margens quanto as áreas de mananciais são protegidas pelo código florestal e são denominadas de Áreas de Preservação Permanente (APP) e que, por isso, para realizar um processo de recuperação ou revitalização, há legislações específicas previstas em Planos Diretores, Leis de Zoneamento Urbano e Uso do Solo do Município. Dessa maneira, devem ser processos faseados e que precisam seguir uma série de etapas: diagnóstico da área; projeto de restauração e recomposição ambiental; implementação de projeto; e monitoramento. O engenheiro destacou ainda que as áreas verdes de domínio público do estado de São Paulo são regidas pela Resolução SMA n° 32/2014.
Expansão Urbana x Recursos Hídricos
O Arq. Lacir Baldusco, que é também presidente do Grupo de Análise e Aprovação de Projetos Habitacionais do Estado de São Paulo (Graprohab), deu início ao último painel do dia introduzindo a discussão sobre a expansão urbana e os recursos hídricos, e como ambos se relacionam. Lacir destacou que, de 2019 a 2023, o Estado teve um aumento no número de empreendimentos licenciados pelo Grapohab. No mesmo período, houve um acréscimo de 50,7% no licenciamento de condomínios. Já os loteamentos apresentaram um ganho de 96,5%. Lacir explica que isso se enquadra como crescimento desordenado das construções, o que acaba gerando um adensamento de população, e classifica essa ação como uma das principais causadoras de problemas ambientais.
Na sequência, o Eng. Antonio Iris Mazza abordou o tema exploração hídrica, que para ele, historicamente, começa pelo consumo, pesca, transporte, higiene e afastamento de resíduos. O engenheiro ambiental também afirmou que a natureza consegue depurar qualquer contaminante depositado na água, mas que o tempo que se gasta para diluir as substâncias é algo que não temos. Antonio explicou ainda que uma pessoa utiliza, em média, 30 litros de água por dia, seja para alimentação, banho ou afastamento sanitário e que tudo isso vai para algum recurso hídrico, caso não tenha tratamento. “A contaminação das águas deve-se à falta de saneamento básico, ocupações de áreas indevidas, assoreamento de nascentes e supressão de vegetação”, comentou. Para ele, quanto mais avançam as construções civis, maiores são os efeitos da natureza que afetarão negativamente a população. Durante a apresentação foram destacadas também causas de contaminação dos rios e maneiras de reverter essas situações.
Ao final do evento, o diretor de Engenharia e Obras no Departamento de Águas e Energia (DAEE), Eng. Nelson de Campos Lima, apresentou o programa Rios Vivos, uma parceria com o Governo do Estado, que tem a finalidade de trabalhar no desassoreamento de rios na capital e no interior paulista. Segundo ele, a estimativa é que sejam atendidos 240 cursos d’água em 12 meses, para que sejam mais bem aproveitados e possam atender de maneira saudável as cidades.
Produzido pela CDI Comunicação