CREA-SP tem sua 1ª Presidente mulher em 85 anos
Com um vasto currículo na Engenharia e no associativismo, Lenita Brandão levanta a bandeira da acessibilidade
Em pouco mais de 85 anos de atividade, é a primeira vez que uma mulher preside o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo – CREA-SP. A Engenheira Civil Lenita Secco inaugurou o posto em março deste ano, em decorrência do afastamento do, então, presidente Engenheiro Vinicius Marchese. Formada pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-CAMPINAS), com uma experiência de mais de 28 anos trabalhando no segmento de Engenharia e, desde 2004, buscando se especializar na área de acessibilidade, a atual titular do cargo de presidente, também, ocupou de forma pioneira a Diretoria Financeira do Conselho.
“Muito se fala na questão da sensibilidade e da acuidade femininas, características com as quais, inclusive, me identifico, o olhar mais apurado para detalhes, mas o que eu acredito mesmo é que cada integrante da equipe contribui com a sua expertise, com a sua experiência, independente do gênero. É a somatória dessas características individuais que torna a equipe tão coesa”, ponderou.
Você se tornou, no mês de março deste ano, a primeira mulher a presidir o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo, em 85 anos de atividades. Como aconteceu e quais são os seus maiores desafios?
Devido à proximidade das eleições do Sistema Confea/Crea/Mútua e considerado o regulamento previsto nas Resoluções do Conselho Federal, foi necessário que o titular do cargo se afastasse de suas atividades durante o período pré-eleitoral; então, seguindo a linha sucessória prevista nos nossos regimentos internos para a Presidência do Crea-SP, a posição deveria ser assumida prioritariamente pelo ocupante do cargo de vice-presidente.
Recebi esta incumbência com a mesma disposição com que, em janeiro de 2015, passei a integrar o quadro de conselheiros do Crea-SP, representando a Associação dos Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos de Americana.
Nesses quase seis últimos anos, a experiência adquirida certamente me qualificou para enfrentar desafios desse porte com a parcimônia e a maturidade necessárias para ocupar essa posição.
Claro que foi grande a minha satisfação ao receber este reconhecimento por parte da Presidência do Conselho e esta é, sem dúvida, uma confirmação de que a equipe está alinhada em termos de propósito e linha de trabalho.
Acredito que toda experiência adquirida reflete positivamente na nossa vida profissional e pessoal. Assim como eu trouxe uma bagagem profissional prévia para a atividade de conselheira do Crea-SP, contribuindo para melhorar essa prática, cada ação de que participei (e continuo participando) no Conselho colaborou para me tornar uma profissional ainda mais dedicada, ampliar minha visão de mundo, me ajudar a entender as necessidades específicas dos meus colegas de profissão de cada parte do Estado e, claro, reafirmar o meu amor e total comprometimento com a Engenharia.
Em diversas áreas profissionais, o pioneirismo da mulher vem crescendo a passos largos. Como enxerga essa linha do tempo com relação ao protagonismo feminino dentro da Engenharia e do CREA-SP?
A presença de profissionais mulheres na Diretoria do Crea-SP vem sendo uma constante na atual administração do Conselho. Um exemplo disso é o fato de eu ter ocupado, pioneiramente, a Diretoria Financeira no exercício anterior.
Por já ter sido presidente da entidade de classe que represento no Plenário do Conselho, entendo que a crescente participação feminina na Engenharia, assim como o reconhecimento das engenheiras pelas funções e competências que desempenham, inclusive ao ocupar cargos e posições de liderança, representa uma importante quebra de barreiras na área.
Quando você escolhe atuar profissionalmente em uma área predominantemente masculina, é natural que isso seja uma constante no seu dia-a-dia. Evidentemente, estamos evoluindo e garantindo a participação efetiva das mulheres na Engenharia. No entanto, ainda temos de fortalecer a igualdade de oportunidades, inclusive para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão.
Muito se fala na questão da sensibilidade e da acuidade femininas, características com as quais inclusive me identifico, o olhar mais apurado para detalhes…, mas o que eu acredito mesmo é que cada integrante da equipe contribui com a sua expertise, com a sua experiência, independente do gênero. É a somatória dessas características individuais que torna a equipe tão coesa.
Ser engenheira é uma questão de resistência e de enfrentar obstáculos, reforçando a importância da profissão na quebra de preconceitos. Mas, além de não acreditar na necessidade de grupos organizados que discutam ações coletivas de gênero, defendo que o esforço pessoal, a competência técnica e a ética sejam sempre os fatores determinantes para que profissionais habilitados, independente do gênero, atuem nas mais diversas frentes.
Tenho mais tempo de associativismo do que de profissão, mas o início evidentemente não foi fácil e hoje, quase 25 anos depois, as mulheres ainda são minoria nas entidades de classe. Acho importante que as futuras engenheiras, ainda nos bancos das universidades, procurem as associações locais e aprendam a exercer a liderança. Foi exatamente o que fiz e não me arrependo, pois desde sempre acreditei na força do associativismo para o desenvolvimento e a promoção das nossas profissões.
Você assume o Conselho em meio a uma pandemia mundial e, como consequência da crise, a necessidade de promover ações a fim de oferecer respaldo e saídas estratégicas para a classe. De que forma o CREA-SP tem se posicionado?
O Crea-SP vem pautando suas ações no sentido de atender às determinações de órgãos públicos de saúde e dos governos estadual e federal, de forma que, desde 23 de março, adotamos excepcionalmente o sistema de home office para as nossas equipes de trabalho, com o principal objetivo de preservar a saúde dos nossos funcionários e da população que utiliza diretamente os nossos serviços e, assim, contribuir para diminuir os riscos de contaminação em relação ao Coronavírus (Covid-19).
Dessa forma, o nosso principal desafio hoje é garantir às empresas e aos profissionais registrados o acesso máximo possível aos nossos serviços com segurança. Nesse sentido, estamos orientando o público a utilizar prioritariamente os serviços online por meio do aplicativo para celular ou pelo CREANet, nos quais ele vai poder emitir ARTs, certidões e consultar o andamento de processos, dentre outras facilidades.
Outra iniciativa importante foi que o Crea-SP, atento às solicitações de seus registrados, pleiteou e conseguiu junto ao Confea que o prazo para pagamento das anuidades fosse prorrogado, sem cobranças de encargos legais, juros ou correção monetária.
Além disso, também estamos utilizando amplamente os nossos canais de comunicação para oferecer orientações ao nosso público, como dicas de prevenção para conscientização de trabalhadores e empresas do setor de construção civil, os quais esperamos que, em breve, possam retomar normalmente suas atividades, com o pleno controle de eventuais prejuízos.
O ano de 2020 é importante para o Sistema CREA/CONFEA/MUTUA, por conta das eleições gerais que acontecem em junho. O que esperar das eleições deste ano?
As eleições do Sistema Confea/Crea/Mútua estão marcadas para 3 de junho, uma quarta-feira, quando vamos votar para presidentes do Confea e do Crea-SP (os outros Regionais também elegerão os seus) e para os diretores gerais e administrativos da Mútua, ou seja, vamos escolher as lideranças que serão, nos próximos três anos, a nossa voz nos debates de interesse da área tecnológica.
É importante ressaltar que, observando as recomendações dos órgãos competentes, a Comissão Eleitoral Regional de São Paulo segue trabalhando, recebendo os protocolos por meio eletrônico e garantindo informações atualizadas para os profissionais, que podem acessá-las regularmente neste link direto: http://www.creasp.org.br/eleicoes2020.
O que nós esperamos para as eleições deste ano é a participação expressiva dos profissionais, que com seu voto ajudam a ampliar a representatividade das profissões da área tecnológica no cenário de decisões do País.
Sou suspeita para falar, mas entendo que o associativismo é o principal caminho para a valorização profissional e somente por meio do esforço conjunto vamos ser capazes de ampliar o alcance das nossas profissões.
Qual espera ser a marca deixada pela sua gestão no CREA-SP?
Os meus projetos são os projetos da atual administração do Conselho e o nosso objetivo é beneficiar igualmente todos os profissionais do Estado. Então, nesse sentido, pretendo continuar trabalhando firme para colocarmos em prática o nosso plano de trabalho, sempre focado no cumprimento das nossas metas e objetivos para o triênio 2018-2020, com vistas a uma maior eficiência e melhor prestação de serviços aos profissionais da área tecnológica e à sociedade.
Como Diretora e Coordenadora da Comissão de Convênios e Parcerias do Conselho, pautei meu trabalho nos esforços junto ao Crea-SP para viabilizar recursos para o aperfeiçoamento dos profissionais do Sistema. Também reservei um olhar especial para a discussão da acessibilidade, então esses são assuntos que continuo acompanhando de perto.