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Incidência de descargas atmosféricas no Brasil e os prejuízos causados por elas

A tendência é que com o passar dos anos o número de descargas atmosféricas aumente no Brasil devido às mudanças climáticas
A tendência é que com o passar dos anos o número de descargas atmosféricas aumente no Brasil devido às mudanças climáticas

Anualmente, o Brasil registra cerca de 77,8 milhões de descargas atmosféricas em todo o seu território, o estado com maior incidência atualmente é o Tocantins com 17,1 descargas atmosféricas por quilômetro quadrado por ano, seguido pelo Amazonas e Acre com 15,8, o estado de São Paulo possui uma densidade de 5,2, segundo estudos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). 

A tendência é que com o passar dos anos o número de descargas atmosféricas aumente no Brasil devido às mudanças climáticas, pesquisas feitas pelo Grupo de Eletricidade Atmosférica (ELAT) apontam que só nos meses de janeiro e fevereiro deste ano já foram registradas 27 milhões de descargas intranuvens, resultando em um aumento de 29% em relação à 2021, estima-se que de 2081 a 2100 o Brasil poderá registrar 100 milhões de raios anualmente. (ELER, 2020).

Com uma alta densidade de descargas atmosféricas, as chances de ser atingido por uma aumentam, cerca de 300 pessoas são atingidas por raio todos os anos, e dessas, 100 pessoas vão a óbito, esses acidentes acontecem principalmente em áreas rurais descampadas, nas residências, próximo à água, embaixo de árvores e em áreas cobertas como varandas e galpões, o estado de São Paulo foi o que mais registrou mortes por raios de 2000 a 2019, com um total de 327 casos no período, apesar de o número de acidentes estar diminuindo com o passar dos anos é importante alertar a população sobre os riscos das descargas atmosféricas. (INPE, 2020; ELER, 2020).

  Visto que a maioria dos acidentes ocorre em áreas descampadas e dentro das próprias residências é imprescindível que as informações sobre os perigos das descargas atmosféricas sejam compartilhadas e alcancem mais pessoas para elas saberem como se proteger em dias de tempestade, uma solução sugerida pelo ELAT é o envio de alerta para quem está em áreas de risco, o grupo monitora as descargas atmosféricas que atingem o solo e também as descargas intranuvens, com isso consegue saber com uma antecedência de até 15 minutos se há chances de um raio cair em determinada região. (ELER, 2020).

Além do prejuízo de perda de vida humana a quantidade de raios que atingem o solo também causam perdas de valores econômicos da ordem de um bilhão de dólares por ano no Brasil, sendo que o maior prejudicado é o setor elétrico com $600 milhões em prejuízos provenientes do aumento da manutenção nas redes, queima de equipamentos e pagamentos de multas, segundo estudo realizado pelo INPE em 2007.

Soluções técnicas também podem ser implementadas nas edificações para evitar esses prejuízos, durante o seu planejamento pode ser feita uma análise de riscos para verificar a necessidade dessas proteções e em edificações existentes deve ser feita a manutenção periódica do Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas (SPDA) para verificar a integridade dos materiais utilizados e se necessário adequar o sistema à norma  vigente NBR 5419:2015.

O SPDA é um sistema composto por três subsistemas, o primeiro é a captação que intercepta a corrente do raio através de captores metálicos, o segundo são as descidas que conduzem essa corrente para à terra e o terceiro é o aterramento que dispersa parte dessa corrente para o solo, todos esses subsistemas devem ser interligados para que a proteção seja eficaz, com um sistema dimensionado para as características da edificação e do local onde ela será construída, o risco de uma descarga atmosférica causar danos a essa estrutura e as pessoas será reduzido. 

Contudo, somente a instalação do SPDA não é suficiente para a proteção dos equipamentos internos, visto que parte da corrente do raio ainda pode adentrar à edificação por meio dos cabos das linhas de energia e sinal, e de forma induzida, portanto é necessário implementar medidas adicionais como as Medidas de Proteção contra Surtos (MPS), principalmente quando o não funcionamento desses equipamentos resultar em perda de vida humana como, por exemplo, em hospitais. 

Alguns exemplos dessas MPS são a utilização de Dispositivos de Proteção contra Surtos (DPS) que podem ser instalados nas entradas das linhas de energia e sinal, nos quadros de distribuição e nas tomadas onde serão utilizados os equipamentos, aterramento e equipotencialização de equipamentos e tubulações metálicas, essas e outras soluções são previstas na NBR 5419-4.

Com base no que foi apresentado conclui-se que a quantidade de raios tende a aumentar significativamente com o passar dos anos, e com isso o prejuízo com perda de vidas humanas e de valores econômicos também pode aumentar, portanto, devem ser previstas soluções que alertem a população nas áreas de risco com o intuito de evitar acidentes e devem ser implementadas medidas de proteção contra as descargas atmosféricas nas edificações visando minimizar os prejuízos causados por elas. 

 

Karen da Silva Oliveira

Engenheira Eletricista